terça-feira, 5 de março de 2013

"Casa dos Anjos"

A mansão “Casa dos Anjos” foi construída por volta de 1920, na Avenida Vicente Machado, nº 253, pelo industrial Ewaldo Kossatz, posteriormente adquirida pelo Sr. Frederico Justus Sobrinho e mais tarde vendida ao Sr.David Hilgenberg Júnior, descendente de imigrantes russo-alemães, oriundo do Volga, uma região ao sul da Rússia.
Várias famílias desses imigrantes vindos a Ponta Grossa, ligaram-se às atividades lucrativas, como criação de animais, casas comerciais, indústrias de laticínios, madeireiras, transportes e outros. David Hilgenberg Justus pertencia a Igreja Luterana, que tinha como lema: “o amor a Deus e ao trabalho”. Realmente trabalharam muito, conforme relatos do Sr. David (vide biografia).
Segundo monografia “Casa dos Anjos”, pesquisa desenvolvida em 1998 por Zenaide da Silva Ferreira, que faz a seguinte colocação sobre o imóvel:
A “Casa dos Anjos”, construída em 03 pavimentos contendo um total de 39 peças. O pavimento térreo constituía-se de salão de festas, possuindo escritório e cozinha para o preparo de alimentos nos dias de festas, chás, recepções etc. Esses acontecimentos sociais eram freqüentes pela grande amizade que possuíam com as famílias tradicionais, como: os Justus, Inthon, Osternack, Kossatz e Lange.
No segundo piso, que era o mais utilizado, situavam-se as dependências usadas no dia-a-dia. Ali ficavam os quartos, cozinha, salas, banheiro e as sacadas.
“No sótão estavam o quarto de brinquedos das meninas e os quartos ocupados pelas funcionárias que residiam na casa.”
Quanto ao nome da residência, foi inspirado graças à pintura interna do teto das sacadas, que são os “Anjos”, pintados artisticamente pelo Sr. Otto Voggetta. Essa pintura encontra-se alterada, era de cor dourada e prateada e os detalhes da parede da sala desenhados com as pontas dos dedos no reboco.
A arquitetura da casa permanece inalterada até os dias atuais, percebendo a parte interna, como porta, janelas, lustres em vidro, com incrustações em jato de areia, formando desenhos de tonalidade fosca, além da pintura dos anjos, sem falar das escadarias, onde as moças Leonilda, Nilva e Zaclis desciam vestidas de noiva quando iam se casar, até dá para imaginar o luxo da família Hilgenberg nesta época. Por ocasião dos casamentos, eram contratados mais empregados, sendo que um deles exercia a função de porteiro, atendendo a chegada dos presentes que eram enviados.
Em entrevista dona Leonilda contou à vida que tiveram quando criança, desde as mais simples brincadeiras com bonecas no quarto do sótão, como as de esconde-esconde no jardim da mansão, com as colegas de escola e as primas que vinham visitá-los. A família sempre contratava empregadas domésticas. Quando entrevistei o Sr. David Hilgenberg, ele falou da morte da esposa, e acrescentou: “quando minha esposa Laura faleceu há 17 anos atrás, nós já tínhamos esta empregada que trabalha aqui já há uns vinte anos, sendo ela quem cuida de mim e da casa”.
Ele também falou da vida em família, que foi muito feliz ao lado da esposa e das filhas, sem nunca imaginar que uma delas Leonilda chegaria tão longe como poetisa, escritora mundialmente conhecida com seus livros, participando de concursos, recebendo troféus, medalhas e títulos.
Quanto aos cuidados do jardim da mansão, era contratado o jardineiro Sr. Jacob Schell, especialista em aparar artisticamente os pés de buchinho, dando formato de bichos, enfeitando o jardim. Os anos fez com que seu filho Alexandre Schell o substituísse, os buchinhos encontram-se lá, apesar de não serem podados artisticamente.
À direita da casa, na frente para a Avenida Vicente Machado, havia um repuxo, onde era decorado com pedras e no meio delas encontravam-se plantadas as mais variadas flores. Nas tardes quentes, a água do repuxo era ligada e chamava a atenção de quem passava por ali. Era o cantinho favorito de dona Leonilda para namorar seu noivo Germano.
Ao lado esquerdo, onde até hoje encontramos uma enorme árvore de magnólia, havia bancos de ferro ao redor, que eram muito usados pelas filhas do casal com as amigas e até com os namorados, ficando assim ao ar livre ouvindo o canto dos pássaros enquanto conversavam. Foi mandado construir por seu David, um viveiro muito grande e alto com árvores naturais no centro onde os pássaros viviam em seu ambiente natural e por ali muitos nasceram e viveram, sendo bem mansos e não assustavam-se com as pessoas à sua volta. Havia ali tico-ticos, pardais, periquitos, sabiás, chegando a ter patativas e até gralhas, cuja beleza era tamanha que mereceu uma crônica escrita por “Vieira Filho” sobre o recital de vozes constante no local.
O muro em redor mantém-se no mesmo estilo da época em que a casa foi construída, mas as partes onde eram completas com gradis, estes permaneciam encobertas pelas trepadeiras-buganvílias lilás, que floriam na primavera, espalhando o seu perfume por toda a casa. Seu jardim era uma verdadeira pintura de arte. Dona Laura, esposa de seu David, era apaixonada pelo jardim, segundo depoimento de Zaclis, filha mais nova do casal.
Quando o Sr. David faleceu, em 1990, foi procedido o inventário da mansão, a propriedade foi desmembrada em dois lotes (mansão e jardim), sendo que a mansão foi dividida entre as irmãs Leonilda e Nilva, e o jardim ficou pertencendo à Zaclis. Posteriormente, a mansão foi vendida ao Sr. Marcos Slud. O jardim continuava de propriedade de Zaclis Miranda e aos seus filhos. Atualmente não existe mais o jardim em seu local foi construído uma loja.

Referências:
LAVALLE, Aida Mansani. Germania-Guaíra: Um século de sociedade na memória de Ponta Grossa, 1996. ( Páginas 37 e 38).
LANGE, Francisco Lothar Paulo. – Os Campos Gerais e sua Princesa / Francisco Lothar Paulo Lange – Curitiba: COPEL, 1998. (Página 258)
SANTOS, Eliane – USP - Ponta Grossa Moderna. Folha de São Paulo, editado pelo Jornal da Manhã em 19 de outubro de 1954.
Monografia: “Casa dos Anjos” de Zenaide da Silva Ferreira – l998
Entrevistas: Sr. David Hilgenberg Junior – 1990.
                  Sra. Leonilda Hilgenberg Justus – 1992.

Isolde Maria Waldmann

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