Num domingo, dia 23 de outubro de 2005, andando pela Avenida Vicente Machado, parei por alguns instantes na esquina com a Rua Sete de Setembro, e observei o antigo jardim que fazia parte da mansão “Casa dos Anjos” enquanto nela viveu o Sr. David Hilgenberg Junior, de saudosa memória. Com o seu falecimento em 1990, a propriedade foi inventariada, passando para as filhas Leonilda e seu esposo Germano Justus, Nilva H. Prestes Matar, e o jardim, após ser desmembrado, ficaram pertencendo à filha Zaclis H.Miranda e aos seus descendentes.
Aquela fina mansão, construída na década de vinte pelo industrial Ewaldo Kossatz, proprietário da primeira fábrica de pregos e parafusos em Ponta Grossa, seria adquirida pelo Sr. Frederico Justus Sobrinho e, mais tarde, pelo Sr. David Hilgenberg Junior, descendente de imigrantes alemães oriundos da região do Volga, na Rússia.
Conhecida como a “Casa dos Anjos”, título devido aos anjos artisticamente pintados no teto da residência pelo pintor Sr. Otto Voggette, ela retrata uma época de grande progresso, prosperidade e expansão das indústrias, das fábricas, os atacados o varejo então em franco desenvolvimento na cidade.
Essa residência é a única situada na Avenida Vicente Machado que, durante décadas, foi preservada, mantida sempre como nova e não só a construção em si, mas os jardins que a circundam.
É uma das mais belas residências da cidade com arquitetura românica, que materializava as aspirações de uma classe de bom gosto, tem caráter dominante na paisagem, possuía um lindo jardim florido com espécie exótica em meio a árvores de cipreste, habitualmente cultivado na região do Mediterrâneo, e trazido para o Brasil pelos imigrantes alemães e italianos, no final do século XIX.
“Jardim Felicidade”, designação recebida pelo que já representou para os seus proprietários, segundo relatos da poetisa Leonilda Hilgenberg Justus, filha de dona Laura; ela diz que sua mãe era apaixonada pelo jardim. Gostava de plantar, cuidar, regar as flores e folhagens apesar de ter um jardineiro mensalista, o Sr. Jacob Schell, especialista em aparar e podar artisticamente os pés de buchinho, dando-lhes o formato de passarinho, que enfeitavam o jardim, recriando um clima europeu. Ele foi também um cartão postal da cidade, pela beleza contemplada pelos visitantes.
No jardim havia um repuxo decorado com pedras e, no meio delas, encontravam-se plantadas as mais variadas folhagens e flores. Na s tardes quentes, a água do repuxo era ligada e molhava as plantas, chamando a atenção de quem por ali passava.
Ao lado esquerdo de quem olha da avenida, pode ainda ser observada uma enorme árvore de magnólia; ela tinha bancos de ferro ao redor muito usados pelas crianças do casal, que adoravam brincar ao ar livre com as amiguinhas, ouvindo o canto dos pássaros enquanto conversavam. Seu David mandara construir um viveiro muito grande e alto, com árvores naturais ao centro, onde os pássaros viviam e por ali faziam seus ninhos para procriar.
O jardim da casa era bem cuidado, o que indica que os donos dedicavam um bom tempo às suas flores, lançando mão de vários recursos, desde o emprego de elementos construídos com requinte, recriando um espaço que procurava imitar a natureza em seus bosques, pedras, pássaros etc.
O jardineiro desempenhava sua função relacionando o homem com a natureza e a vegetação domesticada. Colocava toda sua criatividade e talento na construção do jardim sabendo que o mesmo tem função social, onde as pessoas sentam para pensar, orar, meditar e conversar. As plantas, por sua vez, emprestam ao jardim toda a motivação decorrente de seu colorido, textura e emanação de perfume e, também, o grupo de folhagens, arbusto de floração chamativa pela marcante coloração.
Leonilda H.Justus, lembrou que seu noivo Germano presenteou-a com um viveiro de periquitinhos coloridos que ela estimava muito e, desde então, o jardim passou a possuir dois viveiros. Ali também havia um caramanchão tipo quiosque e, entre o perfume das flores, ouvindo o canto dos pássaros, principalmente do sabiá, as moças namorando o predileto de seu coração.
O muro em redor era mantido no mesmo estilo da época em que a casa foi construída, e as partes completadas com gradis ainda permanecem apesar de o jardim ser sido desmembrado da casa e separado por uma cerca de alambrado.
Sempre que passo por aquela rua, olho a mansão com seu jardim colorido, o último remanescente de uma Ponta Grossa que eu não conheci, mas ali está uma testemunha da arquitetura com marcas de um passado que ficou no tempo e não volta mais.
O Jardim Felicidade já deixou de existir, nele foi construído um prédio comercial, ao lado da mansão separada apenas por uma parede sem vida, que é um (imóvel tombado pelo COMPAC, em 2002).
Na ocasião a arquiteta esqueceu de colocar no tombamento o (Jardim Felicidade), cujo nome originou-se pela magia que aquele espaço físico representava para os namorados que iam até lá para ficarem apaixonados para sempre.
Imaginem se este espaço mágico estivesse situado em Roma, eles criariam mais uma “Fonte de L’Amore”, para que o turista tivesse mais um lugar para visitar.
Isolde Maria Waldmann
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